Cristiano Araújo**
Que me cancelem. Até reconheço a importância de trazer os holofotes para a Amazônia e debater o clima, mas minha paciência com a COP – ou “FLOP30”, como insisto em chamar – se esgotou. Toda aquela encenação solene de “governança global” me soa cada vez mais vazia. E se é para manter essa hipocrisia, seria mais honesto acabar de vez com esses eventos. Não passam de feiras de negócios com cobertura manipulado, onde tudo é orquestrado para que os senhores na Sala Azul sigam impunes, suas fachadas verdes intactas.
Enquanto o mundo literalmente pega fogo, a máquina que alimenta o caos veste terno sustentável e desfila em Belém. A mesma Vale de Mariana e Brumadinho, a JBS da boiada desmatada, a Hydro dos rios intoxicados – todas lá, não para serem julgadas, mas como patrocinadoras oficiais do debate. Bancam a imprensa que deveria fiscalizá-las. É o mundo de ponta-cabeça.
E não se engane: o lobby dos combustíveis fósseis nunca esteve tão forte. Eles passeiam pelos corredores, sussurram nos ouvidos dos negociadores, asseguram a “longevidade” do petróleo no próprio evento que deveria enterrá-lo. Do lado de fora, a Cúpula dos Povos, com indígenas e comunidades reais, é relegada ao papel de figurante. Suas vozes são o incômodo que a estrutura da COP foi criada para abafar.
O roteiro é sempre o mesmo: metas para daqui a 30 anos, acordos sem dentes, a velha promessa de “transição” que só serve para criar novos mercados, nunca para frear a destruição. As COPs 28 e 29 já foram esse mesmo fracasso. O Acordo de Paris é uma lembrança distante de um otimismo que não temos mais.
O professor Paulo Jubilut fez a pergunta que dói: como firmar acordos ambientais com quem lucra destruindo o ambiente? É como pedir a um viciado em jogo que reforme o cassino. O sistema econômico que organiza o mundo não pode salvar o planeta, porque sua existência depende da exploração infinita de um mundo finito.
Então talvez a pergunta não seja o que esperar da próxima COP. Talvez a verdadeira questão seja: quando vamos parar de pedir licença para esse sistema e começar a imaginar um mundo que não precise crescer até morrer? Um mundo onde “decrescer” não seja um palavrão, mas a única saída lógica para uma humanidade que esgotou o próprio lar.
A FLOP30 é o velho mundo fazendo de conta que se reinventa. O planeta, sangrando, não aguenta mais essa ficção.
** Militante trabalhista. Idealizador e apresentador do canal Em Nome da Rosa no Youtube.
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