Homenagem ao líder Leonel Brizola (parte 1)

Neste dia 22 de janeiro, lembramos o nascimento do líder trabalhista Leonel Brizola. Reproduzimos aqui a crônica do companheiro Wendel Pinheiro, que faz uma justa homenagem a Brizola, resumindo sua grande trajetória política.


Crônica de Wendel Pinheiro*: "Leonel Brizola, minha referência!" (PARTE 1)


Um líder trabalhista que, junto com João Goulart, teve como o seu mestre político nada mais que o líder nacional-popular Getúlio Vargas.

Aquariano com ascendente em virgem e lua em sagitário e nascido às 22h no dia 22 de janeiro de 1922 em Carazinho, no interior gaúcho, Brizola lutaria no decorrer de sua infância, adolescente e
juventude, através do trabalho e da educação, a alcançar os espaços de dignidade e cursar a Faculdade de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul nos decorrer dos anos 1940.

Com o fim da Era Vargas, em meio à mobilização popular do Movimento Queremista, Brizola com um conjunto de trabalhadores, estudantes e donas de casa fundaria o PTB no Rio Grande do Sul em 1945.
Seria o mesmo Brizola que, liderando um grupo de jovens do porte de Fernando Ferrari, Antônio de Pádua Ferreira da Silva, Ney Ortiz Borges, Sereno Chaise e Pedro Simon, fundaria o setorial jovem
do PTB, a Ala Moça em 15 de março de 1946.
Com clara liderança, Vargas não apenas admirou a sua desenvoltura como incentivou Brizola a prosseguir a sua trajetória no PTB. Eleito ainda jovem como Deputado Estadual em 1947 com apenas 25 anos, ele se notabilizaria por ser um notório parlamentar das causas populares.
Seria neste ínterim, entre a Presidência da Ala Moça e o exercício de seu mandato que Brizola não apenas namoraria, mas se casaria com a irmã de Jango, a Neusa Goulart Brizola, cujo matrimônio
apenas terminaria com o falecimento dela em 1993.

Reeleito deputado estadual em 1950 com expressiva votação, tudo se encaminhara para que o jovem Brizola pudesse ser eleito Prefeito de Porto Alegre pelo PTB na chapa composta com Maneco Vargas. Porém, as divisões internas na legenda trabalhista fariam com que Brizola perdesse por margem diminuta de votos nas eleições de 1952.
Entretanto, mesmo com o suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954 e a comoção popular em todo o país gerada pela sua morte e a sua mensagem na Carta Testamento, as eleições de outubro de 1954
apontariam para a consolidação política em definitivo de Leonel Brizola como um dos deputados federais mais votados do Rio Grande do Sul. Seria na sua posse de deputado que Brizola
interromperia em público o juramento de Carlos Lacerda à Constituição por afirmar que ele estava faltando com a verdade, caracterizado como um notório perturbador do Estado de Direito.

Em 1956, Brizola foi eleito Prefeito de Porto Alegre e faria um arrojado mandato, investindo não apenas na modernização da capital gaúcha e de sua infraestrutura, projetando a cidade portoalegrense para o século XXI, bem como proliferaria a existência de escolas públicas nos vários pontos da capital.
Como efeito de sua reconhecida operosidade política, ainda tão jovem, ele seria eleito em 1958 como Governador do Rio Grande do Sul com apenas 36 anos de idade. Tamanho feito conferia a ele
a devida responsabilidade pelos rumos do estado, enquanto o seu cunhado era, naquele momento, Vice-Presidente da República e Presidente Nacional do PTB.
Além de promover desenvolvimento com justiça social, seu governo criou mais de 6 mil escolas. O ensino técnico em seu governo foi apoiado e os professores eram devidamente valorizados. A Reforma Agrária seria um dos pontos de centralidade no seu governo, além de promover políticas
sociais capazes de integrar as massas ao progresso social.
Buscando desenvolver o Rio Grande do Sul e enfrentando a resistência das corporações estadunidenses com a péssima prestação de serviços no campo da telefonia e da energia elétrica,
Leonel Brizola encampou, em um gesto de coragem e em um ato inédito na História do Brasil, as empresas ITT e Bond and Share. Tamanha ousadia faria com que Brizola fosse considerado um dos
principais inimigos dos EUA. 

Com a queda de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, diante da tentativa frustrada de um golpe bonapartista, a tentativa de um golpe militar para impedir a posse de João Goulart seria impedida
com a insurreição popular iniciada no Rio Grande do Sul e liderada por Brizola através da Campanha da Legalidade. Tamanha resistência popular, com a adesão posterior do III Exército, faria com que o país estivesse às vésperas de uma guerra civil. Entretanto, a "solução de compromisso" criada residiu na posse de Jango em 7 de setembro de 1961 sob o Regime Parlamentarista.
Brizola não apenas auferiu legitimidade, reconhecimento e liderança em nível nacional, como se tornara, em 1962, o deputado federal mais votado no Brasil pelo Estado da Guanabara, com 270 mil votos, correspondendo, naquele momento, a mais de 27% dos votos válidos. Aliás, nenhum deputado federal até 2018 alcançara a marca proporcional recorde acima dos 20% dos votos - nem mesmo quadros como Paulo Maluf, Lula, Ciro Gomes, Enéas Carneiro, Garotinho, ACM Neto, Russomano e Bolsonaro ao disputarem as eleições de deputado federal.





Liderando a Frente de Mobilização Popular (FMP), Brizola mobilizou em todo o país os famosos Comandos Nacionalistas, também conhecidos como os "Grupos dos Onze", onde eles receberiam as devidas orientações para defenderem as Reformas de Base e se mobilizarem, seja para pressionarem a agilidade de João Goulart ou para enfrentarem uma direita mobilizada e bancada pelos dólares oriundos de think tanks como o IPES e o IBAD.
Com as fortes tensões sociais e as disputas políticas acirradas, os setores conservadores da classe média e das Forças Amadas, além da burguesia brasileira e do apoio institucional de Washington promoveriam o êxito do Golpe Civil-Militar de 1964 contra o governo constitucional de Jango.
Mesmo tentando resistir durante um mês após o golpe, Brizola foge para o Uruguai e apoia a resistência armada, criando do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR). Mesmo com as Guerrilhas de Três Passos e de Caparaó, as ações do MNR não surtiriam o efeito necessário para desgastar e derrubar o Regime Ditatorial e, neste sentido, Brizola não optou mais pela resistência armada.

Perseguido pela ditadura e se tornando um dos principais inimigos, Brizola sofreria um ultimato para ser expulso do Uruguai. Em um movimento inesperado, o líder trabalhista aproveitou a política
de Direitos Humanos do Presidente Jimmy Carter para recorrer o seu pedido de asilo político, o que seria prontamente aceito em 1977.
Com a morte de Jango em 6 de dezembro de 1976, Brizola se tornara automaticamente a liderança trabalhista de vulto maior. Seus esforços em envidar a refundação do PTB não apenas resultaram no Encontro de Lisboa em junho de 1979, mas na sua volta ao Brasil em setembro do mesmo ano e as articulações para a reconstrução da agremiação trabalhista.
Entretanto, as manobras de Golbery do Couto e Silva, ministro chefe da casa civil, consumaram a perda da sigla do PTB em 12 de maio de 1980 para o setor à direita, liderado pela sobrinha neta de
Getúlio, Ivete Vargas. Sobrou a Brizola, junto com os trabalhistas históricos e demais quadros de esquerda, debaterem durante duas semanas o nome do futuro Partido, até a fundação do PDT em 26 de maio de 1980.

Muitos seriam os desafios de Brizola nesta nova legenda. Como seria o Brizola no PDT? Quais os desafios nesta nova organização?


A parte 2 responderá.


Wendel Pinheiro é historiador, membro do Diretório Nacional do PDT e militante do Movimento de Cultura Darcy Ribeiro. 

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