Médici, Bolsonaro e o Futebol.

Ivonei Jose Lorenzi Jr. (Potter)*


No Brasil de 1970, em meio a ditadura militar, o então conhecido como Ato
Institucional nº.5 ocorreu num momento que antecedeu aquele em que o povo festejava
o tri-campeonato mundial, no qual Pele, Tostão, Jairzinho e Cia comandaram uma
seleção como nunca antes se tinha visto. O futebol é o lugar em que o povo sente seu
reino. Como dizia Darcy Ribeiro, é um mundo utópico onde não existe classes sociais.
Futebol é magnífico, e muitos políticos sabendo dessa magnificência o utilizam para
outros fins.

Médici utilizou a Copa do Mundo de 1970, no México, para abafar a repressão
que se intensificou com o AI5 e inclinar as massas a participar da propaganda ufanista
denominada Para Frente Brasil. Cinquenta milhões em ação/Pra frente Brasil/Do
meu coração/Todos juntos vamos/Pra frente Brasil/Salve a Seleção embalados dizia a
música de Miguel Gustavo que colocava o cidadão junto com os jogadores, verdadeiros
soldados na luta por um Brasil para frente e, em busca de um milagre econômico.
“Ninguém segura esse Pais”, “Brasil, Ame-o ou Deixe-o”. Estas eram as frases de efeito
dessa propaganda. Governo militar soube aproveitar bem os símbolos nacionais e
paixão pelo futebol, com Médici indo ao Maracanã com seu “radinho de pilha” e
fazendo comentários sobre futebol. A imagem do General, junto ao com Rei do futebol,
que erguia a taça Jules Rimet ficou marcada como um grande ato simbólico.
Nos anos 2020 o Brasil comemora 50 anos desse grande título (historiadores e
sua fixação por essas datas comemorativas) e o futebol segue fascinante porém muito
bem utilizados por demagogos. Bolsonaro mesmo sendo torcedor do Palmeiras é visto
seguidamente vestido com camisas de outros clubes do futebol, as vezes até falsificadas
para reforçar a imagem de que o presidente é “gente como a gente”. Em 2019 ele se
“transformou” em torcedor do Flamengo, tentando, como no ditado popular “tirar uma
casquinha” do sucesso do Flamengo multicampeão do craque Gabigol. Bolsonaro foi
visto assim como Médici no Maracanã, e supostamente aplaudido pela massa rubronegra.
Bolsonaro também teve a sorte de, no seu primeiro ano de governo, o Brasil se
sagrar campeão da Copa América, disputada aqui mesmo no Brasil.

O demonizado Karl Marx dizia que a história se repete, na primeira vez como
tragédia e a segunda como farsa. O período politico é outro, mas os métodos são
parecidos. Bolsonaro assim como Médici se utilizaram dos símbolos nacionais para
demostrar um suposto nacionalismo e para criar a imagem de homem do povo. As
pessoas que poderão ter dificuldades de se aposentar com a reforma da previdência
aprovadas no governo Bolsonaro, e também as prejudicadas com a perda dos direitos
trabalhistas, as quais ele (Bolsonaro) sempre reforça que pretende retirar, não
compreende que temos um presidente nada preocupado com o cidadão comum.
Acreditam cegamente que Bolsonaro representa o povo por usar uma camisa falsificada
do Palmeiras, e por se alimentar de pão com leite condensado no café da manhã (para
transparecer a ideia que é uma pessoa simples).

O futebol é um fenômeno social que atrai multidões tanto para o bem como para
mal, e sempre terá dentro de campo representações das questões sociais e históricas dos
países, assim como acontece na Argentina, nos Balcãs, na Itália e na Escócia.
Demonizar o futebol e seus apreciadores é um erro. Quem pode ser demonizado são os
políticos demagogos e suas praticas antipopulares.


Servidor público, acadêmico de historia e pedetista. Trabalhismo 21 - Caxias do Sul



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