Intervenção nunca mais
Ivonei Lorenzi Jr. (Potter)*
Desde que as manifestações de Junho de 2013 perderam o rumo e passaram de pautas com embasamento, como Transporte Público de qualidade e mais investimentos públicos em saúde e educação, para pautas de um combate a corrupção superficial e falacioso, surgem pedidos de intervenção militar. Um saudosismo dos tempos do Regime Militar bateu em alguma pessoas mais velhas e pouco informadas que dizem ter boas lembranças do período.
A ditadura civil-militar foi um período em que o Brasil esteve sobre a tutela dos militares e sob as ordens de grupos econômicos, tendo sido marcada por torturas, cassações sumarias e perseguição a políticos adversários, sob a desculpa ardilosa de salvar o Brasil do comunismo, pois vivenciávamos a conjuntura da Guerra Fria. Na verdade o intuito do golpe militar era combater o avanço do trabalhismo e de um debate para o Brasil se manter independente na política externa, o que irritou setores conservadores da sociedade brasileira alinhados aos EUA. Esses saudosistas da época dos militares usam como argumento que suas famílias não sofreram repressão por “andarem na linha”, quando na verdade não se opuseram ao governo militar por pertencerem às classes mais abastadas da sociedade que não sentiram os efeitos da falta de políticas sociais durante aquele período. Em Caxias do Sul, o grupo “Patriotas de Plantão”, que defendem uma intervenção militar, usam desse argumento, mas esquecem que nesse período a cidade tinha menos de 100 mil habitantes; que não possuía os problemas de uma grande metrópole, e contava com uma população criada para pregare e arare, vitimas de uma forte propaganda política que justificava as medidas autoritárias do governo como um mal necessário. Porém, quem ousou questionar o governo militar sofreu as consequências, mesmo que não tenha ligação com os movimentos e guerrilhas comunistas que partiram para a luta armada contra o governo naquele momento.
Esses grupos intervencionistas defendem que a intervenção será algo momentâneo no qual uma junta militar por 3 meses iria reorganizar o Brasil e após esse período teríamos eleições diretas. A falta de conhecimento os leva ao primeiro erro que é acreditar nessa hipótese, já que em 1964 o discurso era de que teríamos um governo militar que comandaria a nação, por no máximo 3 anos, até afastar o “fantasma do comunismo”, organizar a economia e a vida política do Brasil. Havia esperanças de eleições gerais entre 1965 e 1967, mas um golpe dentro golpe com políticos civis que tinham esperanças de concorrer a presidência sendo cassados e se envolvendo em misteriosos acidentes, fez com que a Ditadura durasse até 1985. O segundo erro é acreditar que todos os políticos corruptos seriam presos, em especial aqueles ligados à oligarquias como a família Sarney e Setúbal que possuíam influência nesse governo militar provisório, como possuíram no Regime Militar ao qual o patriarca José Sarney fez carreira junto com o supra-sumo da corrupção, Paulo Maluf, como também nos governos democráticos.
A comunidade internacional nunca aceitaria uma ditadura no Brasil, sofreríamos sansões econômicas e com avanço tecnológico vídeo e imagens de torturas e demais repressões seriam de fácil aquisição, como as fotos de soldados estadunidenses abusando de afegãs e as imagens ao vivo dos conflitos na Ucrânia em 2014 e da Guerra Civil da Síria.
O ovo da serpente está pretendendo chocar de novo! A história do Brasil é marcada pela instabilidade política com tentativas de golpe, golpes e contra-golpes. Não podemos deixar as luzes se apagarem de novo e devemos convencer as pessoas bem intencionadas a lutarmos não por intervenção, mas sim para trocar a falida democracia representativa para uma democracia participativa que englobe todos os setores da sociedade no debate político.
1964 nunca mais, Jango Vive.
* Servidor público, acadêmico de História e pedetista. Trabalhismo 21 - Caxias do Sul.
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