O Brasil Não Teve Governos de Esquerda.

Ivonei Lorenzi Júnior (Potter)*


Épocas difíceis são marcadas por uma profunda necessidade de explicar o óbvio. Nessa era da pós-verdade, e das Fakes News, infelizmente temos que diariamente explicar que os governos FHC, PT, e pasmem, o governo Temer, não foram socialistas muito menos de esquerda, seja no sentido estrito ou outro qualquer.

O governo FHC foi marcado por uma tendência de centro-direita à direita, que bem representou a conjuntura política da América Latina dos anos 90, com um governo neoliberal inclinado a favorecer os interesses das grandes corporações do capital estrangeiro.

O governo tucano teve como uma das suas mais destacadas ações a privatização da Cia Vale do Rio Doce, com apoio do PFL, atualmente DEM, que seguramente é um dos grandes partidos de direita no Brasil. Os argumentos para classificar FHC como de esquerda são seu passado de “príncipe da sociologia”; os programas sociais criados (mas de aplicação muito limitada) durante seu governo; e também por uma foto que viralizou na internet em companhia de Hugo Chávez e Fidel.

Os programas Bolsa Escola, pai do Bolsa Família, visava apenas combater a extrema pobreza, sem grandes mudanças nas diferenças sociais, representando assim uma politica de centro-direita. A foto que virou meme com FHC e Fidel é umas das relações normais na política, que uma mente binaria nunca irá entender.

O PT apresenta uma cartilha de esquerda, mas que não aplica efetivamente em seus governos, e por isso invoca a lembrança dos velhos fantasmas de 64, a exemplo do medo do comunismo, também por, supostamente, o partido fazer parte do terrível e irrelevante Foro de São Paulo.

O Partido dos Trabalhadores seguiu a mesma linha econômica neo-liberal do governo FHC, e na politica externa continuou inclinado ao favorecimento dos banqueiros, porém com uma maior independência e uma melhor relação, (menos subalterna), que a verificada nos anos 90. No campo social o governo se comportou como uma social democracia, com notórios avanços nas questões étnicas e de gênero, garantindo aumento do poder de compra dos trabalhadores e a inclusão das classes menos favorecidas no ensino superior. Com muita propriedade o historiador e militante trabalhista, Wendel Pinheiro, afirma que, o governo PT flertou entre o social-liberalismo e a social-democracia. Não tivemos nos governos petistas uma inclinação clara ao socialismo, limitando-se a um campo de centro-direita desenvolvimentista.

O governo Michel Temer, mesmo acelerando o projeto de redução do estado social brasileiro, que deu seus primeiros passos ainda no governo Dilma, teve apoio da FECOMERCIO e dos grandes ruralistas, e ainda assim foi acusado de esquerdismo. O governo Temer não passou de um aglomerado de fisiologistas que não conseguiu criar um adversário para derrotar PT nas eleições e governar com a legitimidade das urnas, impondo uma agenda neoliberal, notoriamente com mais classe que o chefe do executivo atual, Jair Bolsonaro.

O Brasil, em momento algum de sua história, passou por um processo de planificação da economia, estatização em larga escala, regime de partido único, e o principal: socialização dos meios de produção e significativa redução das diferenças sociais.

Outro argumento falacioso é que o estado brasileiro é socialista por ser muito grande e com uma carga pesada de impostos. O estado é grande para as corporações, para os bancos, latifundiários que controlam o congresso, e para algumas castas do serviço público como o judiciário, todavia para o povo em geral, cujo nível de carência se situa em outro patamar, e que necessita dos serviços públicos, o estado é deficiente. O que temos no Brasil é um capitalismo para poucos e uma grande influência do capital financeiro estrangeiro, ainda refém de um pensamento atrasado e colonial.

Um estudo profundo sobre a história do Brasil e os pensamentos básicos das ideologias políticas e econômicas são fundamentais para se ter um entendimento satisfatório sobre o tema, no que concerne à realidade e ao desenrolar histórico brasileiro. É necessário estudar os grandes pensadores como Marx, Adam Smith, Burke, Stwart Mill, e também o nosso “prata da casa”, Alberto Pasqualini, ao invés de emprestar os ouvidos a picaretas farsantes como Olavo de Carvalho. É imprescindível estarmos preparados para entender conceitos básicos da ciência política sem correr o risco de ficarmos à mercê dessas análises esdrúxulas de quem não entendeu que o Muro de Berlim caiu.


* Acadêmico de História - PDT Caxias do Sul.



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