1984 Evangélico

 Potter Lorenzi*

No clássico distópico 1984 (livro de George Orwell), um dos métodos de controle e alienação da população era proibição de prazer e diversões. Um dos atos mais subversivos cometidos pelo protagonista da obra de Orwell, Winston, foi amar e se envolver com personagem rebelde Julia. No Brasil distópico da atualidade essa magnífica obra e a realidade vêm se confundido, porém em vez de um Grande Irmão, temos um Pastor.

Os fieis se veem cada vez mais presos à realidade apenas para trabalhar, cultuar o grande líder, sendo diariamente vigiados. Essa vigília, não é feita pelas tele-telas como no livro, mas pelos olhos de Deus que tudo vê. Muitos crentes deixam de tomar aquela cervejinha com os amigos no final da tarde para não despertar a ira de Deus e contrariar o seu Grande Irmão.

Esse grande irmão pode ser Silas Malafaia, Edir Macedo, Damares, Flor de Liz, Valdemiro Santigo, R.R Soares e tantos outros picaretas da fé que iludem pessoas de boa índole que estão em situação de desespero por um milagre para melhorar de vida.

Enquanto muitos evangélicos se privam de “pequenos pecados” como beber uma lata de cerveja além da conta, Flor de Liz praticava verdadeiras orgias que incluam seus filhos adotados. Da mesma forma que no livro de George Orwell, a população em geral, pertencente ao baixo clero do partido, mal se alimentava direito, enquanto núcleo do partido desfrutava de regalias como chocolate de qualidade e os melhores vinhos.

Esse controle social na vida real tem o mesmo objetivo da ficção, ou seja, manter as pessoas controladas e sem participar das grandes decisões nacionais. Uma população que só trabalha, sem lazer, sem poder expor sua opinião e sem certos prazeres é uma população altamente manipulada. Esses pastores não acreditam nas besteiras que falam e nem na existência de demônios, mas sim precisam achar um inimigo para justificar o seu controle e proteger os fieis do inferno, como descreve o livro, em que tudo era justificado pela proteção da população, ameaçada por sabotadores a serviço de outras potências.

O avanço desse grupo que já conta com uma banda de mais de 160 deputados no congresso está crescendo. Apenas uma educação pública e laica, com respeito à diversidade religiosa, contemplando também, o combate ao fanatismo religioso, pode conter essa paranoia. Isto requer um projeto nacional no qual o estado esteja presente nas regiões mais carentes para salvar o Brasil desse futuro diatópico fundamentalista que se avizinha.


* Acadêmico de História. PDT Caxias do Sul.




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