É hora de criar novas formas de acesso às universidades públicas
Fábio Melo*
A pandemia do coronavírus é a prova de que os velhos e ultrapassados exames de admissão para as universidades públicas (vestibulares, ENEM entre outros) devem ser extintos!
Num momento em que as escolas fecharam, milhões de alunos em todo Brasil se depararam com a imensa desigualdade no acesso a tecnologia das aulas remotas. Um aluno de classe média alta e rico, que tem acesso a uma internet de qualidade, está muitos passos na frente de um aluno pobre que não tem internet, ou tem dados limitados, que o impossibilita de ter acesso a muitos conteúdos.
Por outro lado, os exames de admissão, não vão parar. Seguem. E com eles segue a grande segregação nas universidades públicas: onde a maioria dos alunos é de classe média, média alta e ricos.
Houve avanços nos últimos anos, sem dúvida, mas são tímidos. Enquanto a forma de ingresso não for repensada e popularizada, as universidades públicas ainda serão pouco acessíveis para as classes populares.
Aliás, onde estão os professores progressistas? Que são de "esquerda"? Por que não se posicionam pelo fim desses vestibulares e buscam um acesso mais democrático?
O ingresso a universidade pública poderia seguir o exemplo de alguns países. Por exemplo, ao invés de exames de admissão, deveria haver um "período de transição" entre ensino médio e superior. Nesse "período de transição", os alunos que acabaram de sair do ensino médio, devem optar por grandes áreas do conhecimento: ciências naturais, exatas, humanas, saúde e medicina etc. Escolhida uma dessas grandes áreas, os alunos assistem aulas com os "princípios" das diversas faculdades, dentro da grande área de conhecimento, e suas matérias específicas (por exemplo, alguém que escolhesse ciências exatas estudaria nesse "período de transição" todas as matérias que derivam desta grande área: matemática, engenharia, física etc.). No final desse "período de transição" o aluno finalmente vai escolher qual área específica vai seguir (no caso de um aluno da grande área de humanas, no final do período pode escolher entre História, Geografia, Sociologia, Antopologia etc). É a possibilidade do aluno também ter um tempo para se identificar com a matéria - visto que muitos chegam na metade de certos cursos e optam por outros, as vezes de áreas diferentes.
Ou a esquerda encampa essa luta pelo fim dos vestibulares (e também turnos únicos para estudos), ou grande parte da população, e da juventude em especial, vai ficar de fora da universidade pública, e, desta forma, se tornar uma presa fácil do discurso mentiroso de que nas universidades públicas não se produz nada de útil.
* Historiador. Professor de escola pública. Membro do Núcleo Trabalhismo21 de Porto Alegre.
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