O Brasil precisa de um "Projeto de Combate à Pobreza e a Desigualdade Social"!
Fábio Melo*
O neoliberalismo transformou o Estado-nação em um "Estado-mercado". A democracia foi saqueada por uma oligarquia econômica que só se interessa em seus lucros imediatos. A liberdade de imprensa se converteu em uma máquina de propaganda dos interesses dessa oligarquia; e não raro falseiam a verdade ao invés de informar as pessoas - o caso da Rede Globo é o mais evidente: a emissora não está preocupada com a verdade, se estivesse não teria defendido com tanta veemência as "reformas" trabalhistas e da previdência, e hoje (2021) não defenderia as reformas administrativas e tributárias (por tanto, a Rede Globo também produz fake news que jura combater).
Ainda dentro do espectro neoliberal, a coletividade se esvaziou para o individualismo egoísta. Muitas pessoas não se enxergam mais como parte da sociedade, apenas como indivíduos que lutam uns contra os outros para viver em meio a um capitalismo selvagem. Essa narrativa social é deliberadamente incentivada por ideias como "patrão de si mesmo", "meritocracia", "empreendedorismo" entre outras.
Outra consequência deste individualismo egoísta é a falta de confiança nos partidos políticos. Sem um grande objetivo em comum, as pessoas não se sentem representadas pelos tradicionais partidos. Isso abre um enorme espaço para que os próprios partidos, na "guerra" para sobreviver, se afastem de suas ideologias e se tornem "partidos pega-tudo", agarram qualquer oportunidade de se meter nos espaços de poder e já não prestam contas a população ou a seus eleitores, apenas a sua pequena burocracia interna e aos financiadores das campanhas eleitorais - que cobram seu preço através de políticas que favoreçam seus negócios.
Enquanto isso, a maior parte da população encara uma triste realidade. Desemprego. Precarização do trabalho. Uberização. Perda de direitos. Salários baixos. Instabilidade no trabalho. Informalidade. Aumento no valor da cesta básica. Aumento da gasolina. Fim do auxílio emergencial. Falta de habitação. Falta de saneamento básico. Falta de vaga em escolas e creches. Fim dos serviços públicos. Mortes nos hospitais em decorrência de COVID-19. Dificuldades de se aposentar; entre outros.
O que os partidos políticos estão propondo para essas questões? O que as lideranças políticas propõe para enfrentar esses enormes desafios? Qual governante de esquerda, nos últimos 8 anos, que enfrentou todos esses problemas? Qual governante de esquerda, em estados e municípios, colocou em prática algum programa de governo que não fosse sob os padrões neoliberais?
Já deixei registrado em outros textos, mas volto a registrar aqui. A esquerda necessita urgentemente agregar em seu vocabulário e suas práticas as questões atuais. A esquerda precisa voltar a falar de justiça social, Estado de bem-estar, leis trabalhistas, combate ao desemprego etc. Os líderes de esquerda precisam mostrar o que fizeram para reduzir as desigualdades sociais.
De forma mais ampla, a esquerda brasileira precisa encarnar um projeto radical de combate a pobreza e as desigualdades sociais!
É muito interessante as propostas de Ciro Gomes e seu Projeto Nacional de Desenvolvimento. Porém, as grandiosas premissas desse projeto são quase inacessíveis para muitas pessoas. Não estou de forma alguma desqualificando o projeto, ao contrário, estou, apenas, propondo formas mais pedagógicas de expandi-lo e de se chegar na população mais pobre, que precisa de um Estado de justiça social para viver decentemente.
Palavras são importantes e tem poder. Se num primeiro momento a mensagem não é totalmente compreendida, pelo menos nos faz pensar.
O PDT, Ciro Gomes, e os líderes trabalhistas precisam pensar imediatamente em agregar o PND no "Projeto de Combate à Pobreza e a Desigualdade Social". Com estes termos talvez se chegue a mais gente, e essas pessoas se identifiquem com o projeto. É preciso apontar o caminho: como realizar tantas políticas sociais? Como eliminar o déficit de moradia? Como fazer novas leis trabalhistas que garantam bons salários e estabilidade? Como erradicar a pobreza no Brasil?
Responder a essas questões é essencial para que militantes e candidatos se alinhem no discurso e cheguem nas pessoas com as propostas de transformação.
Em paralelo, claro, o próprio partido PDT precisa rever suas dinâmicas internas. Precisa colocar os militantes trabalhistas autênticos em primeiro lugar, pois são eles que carregam a esperança de mudança a partir do programa partidário.
Talvez o nome "Projeto de Combate à Pobreza e Desigualdade Social" consiga de fato agregar boa parte da esquerda - e que o PDT e Ciro Gomes sejam os protagonistas. Mas além disso é preciso também agregar a população.
É hora de pararmos de propor projetos dentro dos marcos do neoliberalismo. É hora de propor novos marcos políticos e sociais, afinal, o neoliberalismo está destruindo tudo - a esquerda necessita se propor a reconstruir ou construir; este é o caminho.
* Historiador. Membro do Núcleo Trabalhismo 21 - Porto Alegre. Membro da direção da Juventude Socialista PDT-RS.
Referências:
GOMES, Ciro. Projeto Nacional: o dever da esperança. São Paulo: LeYa, 2020.
NAPOLEONI, Loreta. Maonomics: por que os comunistas chineses se saem melhores capitalistas do que nós. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Amanhã vai ser maior: o que aconteceu com o Brasil e as possíveis rotas de fuga para a crise atual. São Paulo: Planeta Brasil, 2019.
SANDEL, Michael J. A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.
WILKSON, Richard; PICKETT, Kate. O nível: por que uma sociedade mais igualitária é melhor para todos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
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