Os rumos da esquerda no Brasil
Fábio Melo*
Ontem, dia 01/02, foram eleitos os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Os eleitos, pelos próprios parlamentares, foram: Arthur Lira (do PP), na Câmara, e Rodrigo Pacheco (do DEM). Ou seja, ambos partidos de direita alinhados com a pauta neoliberal de Paulo Guedes/Bolsonaro. Cabe destacar que as eleições, tanto na Câmara quanto no Senado, ocorreram sob acusações de compra de votos pelo governo - o velho "toma lá dá, cá" que o governo Bolsonaro disse que não faria.
Quais as lições que a esquerda pode tirar dessas eleições internas do legislativo?
Primeiramente a esquerda precisa cair na real que a tática de "frente amplíssima contra o bolsonarismo" não é eficiente. As articulações para as eleições na Câmara, por exemplo, envolveram Rodrigo Maia (do DEM) e seu candidato Baleia Rossi (MDB). Os partidos considerados de centro-esquerda, como o PDT, PC do B e PSB, declararam apoio a Baleia e se reuniram com ele e Rodrigo Maia. Qual sentido disso? Baleia Rossi chegou a esboçar algum enfrentamento real ao bolsonarismo? PDT, PC do B e PSB exigiram demandas populares, como volta do auxílio emergencial e vacinação, como condição para o apoio ao candidato do MDB? O que houve, na verdade, foi apenas a ideia de "pragmatismo", de "contenção de danos". E não podemos esquecer que Rodrigo Maia tinha vários pedidos de impeachment nas mãos e não teve coragem de colocar nem um desses pedidos em pauta - em 2019 esse mesmo Rodrigo Maia chorou de emoção quando aprovou o desmonte da Previdência Pública! O que a esquerda esperava desse lacaio do liberalismo?! Agora a direita comanda a Câmara federal, e Rodrigo Maia entra no ostracismo, apesar de seguir em seu mandato. Qual o saldo positivo da esquerda como um todo nesse processo?
Segundo, já passou da hora dos partidos de esquerda começarem o trabalho de base para 2022. Muitos, evidentemente, já o fazem, mas se a esquerda quer ser grande novamente é preciso que todos façam. Deputados, senadores, governadores, prefeitos e vereadores de esquerda precisam movimentar e fomentar as bases de seus partidos, estimular a verdadeira militância social e não apenas cargos em seus gabinetes. Essa militância por sua vez, precisa urgentemente se apropriar das ideias e de uma narrativa radical. Precisa voltar a falar em reforma agrária, reforma urbana, popularização da universidade pública, auxílio para desempregados, novas políticas trabalhistas para melhores salários e estabilidade para todos. Ou seja, a esquerda precisa abandonar de vez essa retórica da "contenção de danos", de pragmatismo absoluto, que, como estamos vendo, só serve de linha auxiliar para o neoliberalismo e para a direita "centrão". Os governantes de esquerda precisam promover grandes e verdadeiras obras de justiça social, para servir de exemplo para o povo - e desta forma evitar os demagogos toscos, tal qual é Jair Bolsonaro.
Ao longo da história os liberais sempre se juntam com projetos autoritários antipovo, porque no Brasil isso seria diferente? Porque no Brasil os liberais iriam apoiar o Projeto Nacional de Desenvolvimento de Ciro Gomes? É preciso rever essas articulações.
O PDT em particular, que deseja lançar novamente Ciro Gomes para 2022, precisa abraçar as ideias radicais apontadas acima. Suas lideranças precisam voltar para sindicatos, associações de bairros, coletivos urbanos, grêmios estudantis, diretórios acadêmicos, associações rurais etc. E levar para todos esses espaços a narrativa radical de transformação e justiça social. Contra a "reforma tributária", precisamos de justiça tributária: quem tem mais paga mais! Contra a "reforma administrativa", precisamos de mais serviços públicos de qualidade! - fim do "teto de gastos". Enquanto houver desemprego, precisamos de mais auxílio! Em relação ao comércio e aos pequenos e médios empresários, precisamos dizer a eles que um trabalhador estável e com bons salários não vai prejudicar seus lucros, basta uma nova politica trabalhista e não o desastre da "reforma" de 2017. Contra os juros abusivos, precisamos de controle social sobre as grandes instituições financeiras.
Ou ousamos ou erramos. A esquerda que quer governar o Brasil não pode ter medo de suas ideias. Não pode se contentar em governar sob o neoliberalismo, como fez o PT. O Brasil de hoje exige políticas ousadas, radicais e efetivas para estancar e superar nossa crise secular que só joga brasileiras e brasileiros na miséria.
Enquanto a esquerda não apontar o rumo em direção a um estado de bem-estar e justiça social para o Brasil, a direita seguirá ganhando espaço e continuará com suas políticas que prejudicam todas as pessoas, principalmente os mais pobres e a classe média.
* Historiador. Membro do Núcleo Trabalhismo 21 de Porto Alegre e da direção estadual da Juventude Socialista PDT-RS.
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