CLIMA E CAPITALISMO

Fábio Melo*


Chega a ser ridículo a forma como os meios de comunicação tratam a questão climática, que se trona cada vez mais urgente. Nenhum destes meios (tal como a Globo) consegue dizer o que está evidente: a culpa pelo colapso climático que enfrentamos é do capitalismo! Contudo, a mídia tradicional (que óbvio defende o capitalismo que lhe rende lucros), traz o assunto com especialistas, mostra argumentos convincentes sobre as questões climáticas, mas sem jamais dizer que o real problema é o sistema capitalista. Se os meios de comunicação não dizem o que realmente importa, os líderes mundiais também evitam descaradamente falar sobre o verdadeiro culpado: o capitalismo.

Isso ficou evidente na reunião COP26, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow, na Escócia, a partir desta segunda dia 01/11. Nos discursos de abertura, promessas de metas a serem vencidas, políticas ambientais desenvolvidas em diversos países, porém ninguém se atreve a falar do verdadeiro culpado por essa tragédia climática. 

A Escócia é o berço da revolução industrial, foram inventores escoceses que possibilitaram à máquina a vapor moldar as primeiras indústrias de tecido e as primeiras locomotivas, ainda no século XVIII, na Inglaterra. De lá pra cá os países buscaram cada vez mais se desenvolver a partir do modelo inglês. O mundo se dividiu entre os produtores de matérias-primas (commodities) e os industrializados, exportadores de tecnologia. O Brasil, que desde cedo se especializou em produzir matérias-primas, mais baratas que tecnologias ou produtos transformados pela indústria, tentou romper essa dependência com o projeto trabalhista, mas os liberais e neoliberais sempre puxaram o nosso país de volta ao patamar de exportador de commodities. 

Mais de dois séculos após o início da revolução industrial, as sociedades capitalistas devoram quantidades cada vez maiores de recursos naturais e jogam na atmosfera cada vez mais gás carbônico. 

O grande desafio para os países subdesenvolvidos e, principalmente para os desenvolvidos (núcleos do capitalismo global), é se desenvolver economicamente em busca de justiça social, sem romper o teto ambiental e ecológico. Esta é a ideia da economista Kate Raworth no seu livro "Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo" (Zahar, 2019).

Enquanto os líderes mundiais, militantes, ativistas ambientais não se derem conta que o capitalismo é o problema, ou pelo menos o modelo capitalista que temos alimentado, os discursos e apelos sobre as mudanças climáticas serão apenas discursos soltos ao vento.

Certa vez li uma pichação no banheiro de um bar que define muito bem o que está acontecendo: "É mais fácil falar no fim do mundo do que no fim do capitalismo". Ao que parece é isso que tentam nos dizer: o efeito estufa vai extinguir a humanidade; honesto seria dizer: o capitalismo vai extinguir a humanidade. O planeta Terra pode demorar séculos ou milênios, mas vai se reconstruir. A questão é: será que a humanidade também?


* Historiador. Trabalhismo 21 - Porto Alegre.






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