NEOLIBERALISMO + CHUVAS = DESASTRE

 Fábio Melo*


O Rio Grande do Sul vive, desde o dia 01 de maio, a mais grave catástrofe de sua história. Se no ano de 2023 teve ciclones, chuvas, inundações, agora, em 2024, esses desastres atingem um patamar sem precedentes. Milhares de pessoas, que já haviam perdido tudo, nas enchentes ao longo de todo ano de 2023, voltam para uma situação de insegurança, desolação e tristeza. 

Diante deste cenário de extrema calamidade pública, o governador Eduardo Leite (PSDB) se apequena, se vitimiza, aparecendo, mais uma vez, como uma figura patética e totalmente despreparada para governar. 

Eduardo Leite e o PSDB tem como receita de governo o neoliberalismo, pela qual o papel do governo é capitalizar para a iniciativa privada e deixar políticas sociais de lado. Desta forma, o governo "terceiriza" sua responsabilidade. Isso ficou muito claro com a privatização da CEEE para o grupo Equatorial. O serviço, além de ter piorado, não é nada transparente: afinal uma empresa privada só busca o lucro, nada de função social da energia elétrica. Pessoas já passaram mais de 20 dias sem luz!

Não é a primeira vez que o Estado vive catástrofes ambientais que matam e causam muita destruição em cidades. Mas o governo estadual pouco fez para se prevenir. Por mais que a situação, desta vez, seja muito mais grave, se houvesse uma prevenção por parte do governo, o prejuízo seria muito menor. 

Ficam os questionamentos: Por que o governo estadual não criou um grupo de articulação com prefeitos dos municípios que corriam maior risco? Por que o governo não usou recursos, estimados em 60 milhões, para criar ou construir abrigos de emergência nas áreas críticas e abrigar as pessoas até a construção de casas e de uma estrutura urbana em áreas longe de risco (algo que leva tempo). https://www.defesacivil.rs.gov.br/governo-do-estado-amplia-recursos-fundo-a-fundo-para-a-reconstrucao-de-municipios. Por que o governo não organizou grupos da defesa civil e exército para orientar as pessoas a saírem de suas casas antes da água invadir seus domicílios, ao invés de apenas mandar alertas (que por si não adiantam muito)?

Diante de todos os alertas, Eduardo Leite/PSDB ainda contribuem para o desastre aprovando uma lei de flexibiliza regras ambientais para construção de barragens em áreas de preservação permanente:  https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/04/09/governador-do-rs-sanciona-lei-que-flexibiliza-regras-ambientais-para-construcao-de-barragens-em-areas-de-preservacao-permanente.ghtml

Nas entrevistas que fez desde o dia 02 de maio, Eduardo Leite se comporta mais como um "garoto da previsão do tempo" do que como um governador. Apresenta mapas com as áreas alagadas ou em risco, mas não apresentou nenhum plano para as pessoas. O governo praticamente dizia "se virem, fujam, busquem ajuda e abrigo". Apesar de equipes de resgate estarem trabalhando, o governador ainda diz que não vai conseguir salvar todos... Revoltante! https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/05/01/temporais-no-rs-coletiva-eduardo-leite.ghtml

Os alertas da Defesa Civil não servem de nada se não há uma equipe preparada para resgatar as pessoas e organizar para onde ir. Alguém que recebe um alerta do governo no celular deve fazer o que? Ir para onde? O neoliberalismo é isso: as pessoas que se virem.

Na capital do RS a situação não é muito diferente. O prefeito Sebastião Melo (MDB), que segue a mesma cartilha neoliberal de Eduardo Leite/PSDB também é da política do "saiam de casa e se virem". A maior enchente da história de Porto Alegre (superando a marca da enchente de 1941) serviu para mostrar a falta de preparo do governo municipal, tentando conter a água que vazava das comportas do muro da Mauá ou os diques da cidade com sacos de areia. Por que não fizeram uma avaliação dos diques e das comportas da cidade após a enchente do ano passado? Em 5 meses não deu tempo para avaliar a situação das comportas e dos diques da capital, caso houvesse novo temporal? Não há prevenção! É como se um piloto de avião tivesse que consertar a turbina da aeronave em pleno voo. 

Até o presente momento, 04/05, as chuvas já deixaram cerca de 54 pessoas mortas, quase 10 mil desabrigados e mais de 32 mil desalojados. (https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/05/04/balanco-defesa-civil-chuvas-rio-grande-do-sul-mortes.htm)

Se por um lado os gaúchos não podem contar com ações efetivas do governo, pelo menos contam com a solidariedade. Milhares de pessoas se colocam como voluntários para ajudar a comprar, distribuir mantimentos e até no resgate. 

Fica a lição para o povo gaúcho: NÃO PODEMOS MAIS ELEGER GOVERNOS NEOLIBERAIS DOS PARTIDOS PSDB, MDB, PP, PL, NOVO entre outras siglas que defendem esse liberalismo canalha. Agora mais do que nunca vimos que quem defende o Estado mínimo liberal defende a catástrofe, a tragédia e a morte. 

Para aqueles que dizem que não se pode "politizar" a tragédia, digo que essa tragédia é muito mais política do que ambiental. Se o governo tivesse se precavido, se houvesse planejamento, se houvesse articulação, os danos materiais e em vidas seriam minimizados. 

É um argumento extremamente hipócrita não querer politizar, se fosse um governo de "esquerda" no Estado, será que também não iriam querer politizar? 



* Historiador. Professor na rede pública de Canoas. 



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