A ESQUERDA ENVERGONHADA É O TRAMPOLIM PARA A DIREITA NEOLIBERAL
Fábio Melo*
A reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos talvez seja a prova derradeira de que a esquerda, talvez em âmbito mundial, precisa radicalizar suas práticas e seus discursos.
Aqui no Brasil, acompanhamos a direita e a extrema-direita ganharem as eleições municipais.
Creio que existe um descompasso entre as pautas reais, que afetam diretamente a classe trabalhadora, e os partidos/movimentos de esquerda. Aqui no Brasil precisamos de empregos, serviços públicos de qualidade, direito a previdência digna, moradia para quem mora na cidade e terra para quem vive no campo. A esquerda dos partidos hegemônicos (eleitorais, tais como PT, PSB, PDT) parece não ter mais em seu discurso a luta ou reivindicações por essas pautas. Toda luta política tem um custo a se pagar. Lutar por moradia popular, de qualidade, promover uma reforma urbana de fato, é, necessariamente, lutar contra a especulação imobiliária e seus operadores - como as empreiteiras, que, por vezes, financiam campanhas eleitorais. Lutar por uma previdência digna é enfrentar o poder do capital financeiro, que lucra com a previdência privada. E assim por diante.
Essa falta de clareza e de radicalismo dessa parte da esquerda brasileira é que torna possível a ascensão e a manutenção da direita: "Se não há opção na esquerda, por que mudar?" Qual projeto a esquerda oferece diferente do que está posto? Como a esquerda vai beneficiar com políticas públicas as pessoas que vivem de empregos precarizados, autônomos, baixos salários e que acreditam no "empreendedorismo"? Tudo isso vai de encontro aos debates sobre o "pobre de direita" e a "esquerda aburguesada".
Nos Estados Unidos, a esquerda deles (setores do Partido Democrata) praticamente não apresenta nenhum projeto radical de reforma desde o New Deal das décadas de 1930-1940 - e que durou até o início dos anos 1980 quando o presidente Ronald Reagan começou o desmonte das políticas sociais. Desde então, os governos democratas de Bill Clinton, Barack Obama e Joe Biden apenas promovem uma tímida "Terceira Via", que eles acreditam ser uma conciliação entre o neoliberalismo e políticas sociais.
No Brasil, a vitória do PT em 2003 nunca representou de fato uma mudança radical - embora os governo do PT de 2003 a 2016 tivessem mantido e ampliado políticas sociais; porém, não avançaram no combate ao receituário do Consenso de Washington.
Diante disso, a solução é radicalizar o discurso e as práticas. Todos falam em "voltar as bases", disputar espaços. O caminho é por aí. Mas quem está disposto a largar um pouco do conforto para disputar esses espaços na sociedade civil?
O trabalhismo é uma ferramenta que possibilita essa radicalização!
* Historiador. Professor de escola pública. Trabalhismo 21 - Canoas.
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