Golpe nas Reformas de Base


Ivonei Lorenzi Junior (Potter)


    Após a surpreendente renúncia de Jânio Quadros da presidência do Brasil, seu vice João Goulart, assume a chefia do Estado, contrariando os interesses das elites econômicas e conservadoras brasileiras. Sua posse foi viabilizada através da mobilização do seu cunhado e governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que conduziu através de uma cadeia de rádios o movimento da Legalidade. Jango não era bem visto por alguns grupos econômicos por ter sua história vinculada aos sindicalistas e grupos de esquerda desde os tempos em que fora Ministro do Trabalho no Governo Vargas. 
    Jango era acusado de querer transformar o Brasil numa república sindicalista como na Argentina de Perón, e sua aproximação com segmentos de esquerda amedrontava nossas elites que tinham um pensamento binário, acreditando que o Brasil cairia na mão dos soviéticos, preconizando uma nova revolução cubana. Seu primeiro conflito com os udenistas foi durante sua passagem pelo Ministério do Trabalho quando defendeu 100% de aumento no salário-mínimo, que estava defasado havia muito tempo, o que posteriormente ocasionou o seu afastamento. 

    Com seu estilo gaúcho bonachão, e seu idealismo, Jango dirigia o governo ganhando a simpatia popular, estabelecendo medidas econômicas numa linha desenvolvimentista e garantindo aos trabalhadores mais um direito: o contestado “Décimo-Terceiro”. Mas o grande ideal do seu governo eram as Reformas de Base, incluindo a tão temida por alguns, “Reforma Agrária”. 
    As Reformas de Base consistiam num conjunto de reformas em setores estratégicos que visavam o desenvolvimento social e econômico nacional, com o estado cumprindo o papel de indutor. Incluía a Reforma Educacional, com o intuito de combater o analfabetismo e proporcionar uma educação pública mais plural. Contemplava a Reforma Fiscal para taxar as remessas de lucros e aumentar a capacidade de arrecadação do estado, e a Reforma Eleitoral garantindo voto dos analfabetos e dos militares de baixa patente. Além destas previa também uma reforma urbana como estratégia de melhoria para a questão habitacional e da qualidade da vida urbana. 
    A Reforma Agrária visava a desapropriação de terras improdutivas, democratização do trabalho rural, e o combate ao grande latifúndio. Essas reformas visavam corrigir os nossos históricos problemas estruturais.

    Além das Reformas de Base, governo Jango também dava sequência à Politica Externa Independente iniciada no governo Jânio Quadros. Essa politica de relação econômica e diplomática internacional colocava o Brasil independente na conjuntura de guerra fria, irritando as nossas elites que defendiam o desenvolvimento brasileiro através da dependência do capital estrangeiro, de modo a se manter submisso aos interesses dos EUA no conflito ideológico. As reformas de base e a PEI faziam parte do pensamento nacional-desenvolvimentista,  que se antagonizava ao desenvolvimento dependente defendido pelos grupos que golpeariam Jango. Nota-se que por essa linha, além da conjuntura mundial, tínhamos a nossa própria disputa nacional entre projetos político-econômicos.     Os comunistas, por entenderem que não era hora de uma revolução aos moldes de Cuba ou da Rússia, e por reconhecerem os avanços que estavam garantindo um futuro melhor para as classes menos favorecidas, apoiaram Jango na tentativa de implantação de seu projeto reformista, o que posteriormente foi utilizado para acusá-lo de estar preparando um golpe com apoio soviético.
    Jango não tinha ligação com os soviéticos, tanto que, nunca cogitou em seu governo romper relações com os EUA. Jango queria um Brasil soberano, iniciando por uma longa caminhada com o objetivo de corrigir nossos problemas estruturais com as Reformas de Base. 
    Mas nossas elites por não serem apenas conservadoras, mas também atrasadas temiam pelas reformas e pelo olhar social de Jango, e disseminaram a ideia de que daríamos uma guinada para o comunismo. As Reformas de Base foram o principal alvo dos golpistas de 64.



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